Juntámo-nos por um futuro para além da aviação, do turismo e do capitalismo

No passado mês de julho, ao longo de quatro dias, mais de 150 pessoas estiveram reunidas em três continentes diferentes e online para criar novos laços, ganhar alento e construir estratégias de resistência perante as crescentes crises climáticas e sociais. A conferência da rede Stay Grounded, “Para lá da aviação, do turismo e do capitalismo”, foi uma semente de um movimento global que continuará a crescer de Barcelona à Cidade do México, de Bangalore a Lisboa.

Numa altura em que o sistema viciado em combustíveis fósseis acelera a degradação climática, em que os super-ricos se apoiam na extrema direita para defender o seu poder e os seus lucros, a ATERRA juntou-se em Barcelona a pessoas e grupos de todo o mundo para construir a resistência.

Ancorados na luta pelo decrescimento da aviação, reunimo-nos com grupos que defendem a justiça climática e o direito à habitação, que lutam contra a turistificação, com académicos e cientistas, entre tantos outros.

Vozes de três continentes

A sessão de abertura celebrou a diversidade da rede Stay Grounded. Em Barcelona, ouvimos a Zeroport, o Círculo Anti-Opressão, Las Kellys, a Coligação Europeia pelo Direito à Habitação e à Cidade e o nosso anfitrião Coopolís/Bloc4. E atravessámos os mares para receber as contribuições de grupos da Cidade do México e Bangalore, sobre as realidades das suas lutas, ligando as nossas lutas locais a uma frente global.

Em San Gregorio de Atlapulco, na Cidade do México, um encontro intergeracional liderado por jovens conectou lutas contra a turistificação, os impactos da aviação e a gentrificação urbana. Coordenado cuidadosamente pela rede regional Permanecer en la Tierra e vinculado ao Congresso Nacional Indígena, o evento promoveu laços de resistência à mercantilização das cidades e territórios e reafirmou a importância de uma postura anticapitalista.

Em Bangalore, Índia, a conferência reuniu um grupo diversificado de participantes, desde urbanistas e defensores da terra a organizações que apoiam comunidades que resistem à expansão dos aeroportos e enfrentam deslocações. Num país onde a ecologia política em torno da aviação é amplamente silenciada, o encontro criou um espaço raro e vital para sensibilizar, construir redes nacionais e começar a traçar um roteiro coletivo para ações futuras.

Conversas, oficinas e partilha de competências

As conversas foram desde os malefícios de um modelo de turismo dependente da aviação à definição de exigências concretas para a redução do tráfego aéreo. Nas oficinas, as e os participantes exploraram estratégias, narrativas, cuidados, trabalhos manuas e até mesmo um jogo de tabuleiro coletivo que expõe a indústria da aviação.

Organizámo-nos em quatro grupos de trabalho:

Aviação, Turismo e Habitação – Ligámos os pontos entre a injustiça climática, a turistificação e as crises habitacionais, reconhecendo as suas raízes comuns no capitalismo neoliberal extrativista. A resistência deve centrar-se nas comunidades oprimidas e basear-se em mobilizações conjuntas.

Linhas vermelhas para aeroportos – A luta contra a expansão do aeroporto de Lisboa juntou-se a outras 16 lutas locais, e avançámos para uma campanha coordenada em toda a Europa, com ferramentas, narrativas e potenciais ondas de ação em 2026 partilhadas.

Imaginários com os Pés na Terra – Visualizámos futuros além da aviação e do turismo, recolhendo alternativas da vida real para alimentar as nossas narrativas e a construção do movimento.

Competências coletivas para a crise – Reforçámos a infraestrutura humana da resistência, com práticas somáticas, trabalho de consentimento e mapeamento de conflitos para construir redes resilientes e solidárias face à urgência climática.

Juntos, estes grupos lançaram as bases para um movimento estratégico, coordenado, visionário e profundamente enraizado na justiça climática.

Dos cuidados à ação

Momentos de música, refeições partilhadas e expressão criativa lembraram-nos que a resistência é também a alegria, a conexão e diversidade de culturas que defendemos contra o extrativismo e a exploração. O cuidado e a comunidade foram tecidos em todas as partes da conferência e explorados profundamente em oficinas, garantindo que os nossos movimentos cresçam não só fortes, mas também sustentáveis.

O nosso tempo juntos culminou em ação coletiva. De Barcelona a Roissy, de Lisboa à Cidade do México, traçámos uma linha vermelha contra a expansão dos aeroportos com os nossos corpos e vozes, apelando à necessidade urgente de travar o crescimento da aviação em todo o mundo.

A sessão plenária final ecoou esses laços de solidariedade além fronteiras, com uma declaração poderosa da conferência na Cidade do México, que nos exultou para a luta que temos pela frente: decompor o capitalismo e defender a vida. Encerrámos a conferência renovadas no nosso compromisso de ir além da aviação, do turismo e do capitalismo. Juntas, temos os pés bem assentes na Terra, no cuidado, na solidariedade – prontos para descolar no voo da resistência.

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