Fomos várias dezenas de pessoas, dos 7 meses aos 70 anos de idade, a passar na sexta-feira (28 de junho) pelo “Convívio Terra-Aterra” na Praia do Samouco. Um evento de sensibilização para os riscos do projeto da construção dum aeroporto no Montijo e do aumento do tráfego aéreo na cidade de Lisboa.
Perante a emergência climática que vivemos – reconhecida recentemente pelo próprio governo e presidente da república -, escolhemos usar a imaginação e a criatividade, abrir a cooperação com todas as pessoas, e conectar com o lugar que habitamos. O estuário do Tejo é um dos mais importantes ecossistemas e reservas naturais da Europa, reconhecido como património mundial. A nossa Terra é a única que temos. São estes lugares que queremos conservar, proteger e regenerar.
A manhã foi passada a recolher o lixo do areal, em cooperação com a Junta de Freguesia do Samouco, a Base Aérea n6 e o Movimento sem Palhinhas.
Depois, o grupo Meditação em Acção
Almoço partilhado, iniciação ao Lindy Hop, sessão de yoga, performance, divertida filmagem aérea, criação de brincos de aviões de papel (o famoso símbolo do nosso movimento)… foram várias e animadas as atividades que preencheram o resto da tarde de verão, e que despertaram o interesse dos moradores e das pessoas que vieram desfrutar desta belíssima praia ameaçada.
Um momento chave foi a conversa “Imaginando juntas novos caminhos: por uma mobilidade justa e ecológica”. Juntámos muitas pessoas e movimentos comprometidos com transformações concretas para melhorar a nossa sociedade. Partilhamos algumas passagens.
Hans Eickhoff, médico e membro da Rede para o Decrescimento, lembrou que “os impactos para a saúde estão estudados noutros aeroportos, como Heathrow em Londres. Um aeroporto afeta gravemente o sono e o desenvolvimento cognitivo nas crianças, e contribui para acidentes cardiovasculares e depressão. O Montijo não tem nada a ganhar, só tem a sofrer com isto. Há ainda todo o trânsito rodoviário gerado”.
Pedro Nunes, explicou que “o Aeroporto da Portela, no centro da cidade, é um caso insólito. É o que mais pessoas afeta na Europa. O atual projeto de expansão implica um aumento de 50% de passageiros e de tráfego, sem prever qualquer estudo de impacto sobre o ambiente e a saúde pública.” O investigador em Energia e Ambiente no Instituto Dom Luiz, Universidade de Lisboa, é um dos iniciadores da petição pública “Aeroporto de Lisboa – queremos ser informados e ouvidos”, que foi ouvida na assembleia municipal de Lisboa e voltará a ser abordada num plenário público.
O projeto de expansão aeroportuária contribuiria dramaticamente para a crise habitacional em Lisboa. António, da Stop Despejos, sublinhou a importância de as várias lutas se juntarem, e que uma questão habitacional é também uma questão ambiental. Leonor Duarte, do Morar em Lisboa, propôs que coloquemos o enfoque dos nossos movimentos num outro modelo de desenvolvimento para cidade.
Luís Camacho, da Rede para o Decrescimento, apelou para a importância do “fim da monocultura que existe em Lisboa do turismo e do imobiliário, que está a criar uma cidade de terceiro mundo, com empregos pobres”.
Valdir e Gilda, moradores do Montijo, vincaram que a população precisa de mais informação e mais transparente, apelaram às e aos montijenses para se juntarem a esta campanha, e a que iniciativas como esta se repitam.
Também enriqueceram esta conversa: Climáximo, Climate Save, GAIA, Horta FCUL, Greve Climática Estudantil e Plataforma Cívica Aeroporto BA6 – Montijo Não.
Apesar do contacto com a comunicação social portuguesa, o silêncio sobre o evento foi geral. A cobrir o convívio esteve a France 2, o principal canal de televisão público francês e o segundo mais visto em França, que dedicará uma emissão do programa “Complément d’enquête” ao problema do transporte aéreo e do turismo de massas em Lisboa. Ironicamente, o jornalista veio e voltou de avião no próprio dia – um exemplo flagrante daquilo que temos de mudar.
Este evento insere-se numa série de ações que vamos continuar com determinação, até celebrarmos o cancelamento do projeto de expansão aeroportuária em Lisboa e a redução do tráfego aéreo.