Salvem as pessoas, não os aviões 

Hoje, dia 18 de Março, em Viena, decorre a reunião extraordinária dos ministros do transporte da UE para discutir as reivindicações da indústria da aviação para cobrir as perdas devido ao Covid-19 com fundos públicos.

A campanha ATERRA e a rede internacional Stay Grounded, da qual somos membros em Portugal, denunciam esta intenção através de uma carta enviada aos ministros europeus.

É chocante, num contexto de surto epidémico e de crise climática, que dinheiro proveniente diretamente dos cidadãos possa ser entregue a indústrias que nos conduzem à catástrofe ecológica. A uma indústria da aviação que, sendo responsável pela rápida transmissão da epidemia, procurou atrasar a adoção de medidas de saúde que podiam ter impacto no tráfego aéreo. Uma indústria que já é responsável por pelo menos 5 % do aquecimento a nível mundial. Estamos a resgatar aqueles que lucram vezes sem conta, enquanto as pessoas, desde as donas de pequenos negócios, às que não conseguem pagar as rendas, que ficam sem emprego ou que não têm acesso a documentos de residência, ficam para trás.

Não chegava os lucros serem sucessivamente privatizados, e os custos das emissões tornados públicos, como agora também os prejuízos das transportadoras aéreas passariam para o domínio público. Este tornar-se-ia mais um capítulo de uma série de benefícios públicos oferecidos à aviação, como a isenção de impostos nos bilhetes e nos combustíveis.

Este deveria ser um momento para aplicar fundos não em ressuscitar zombies corporativos, com um legado de precariedade laboral imposto às suas trabalhadoras, mas em efetuar uma verdadeira transição justa. Formar trabalhadoras da aviação para a transição para uma economia sustentável, e investir em meios de transporte que possam colmatar as necessidades da população, nomeadamente a ferrovia. O regresso à normalidade anterior à crise do Covid-19 não pode ser uma opção.

A crise do Covid-19 é urgente. No entanto, pode ser apenas uma amostra do que será uma crise climática, repleta de fenómenos climáticos extremos, ruptura na produção de comida e migrações forçadas. Esta crise mostra que se é possível agir coletivamente de forma a parar milhares de mortes pelo vírus, também é possível efetuar uma transição energética.

Os pregos no caixão do aeroporto do Montijo acumulam-se, sendo a crise do Covid-19 apenas mais um evento que nos diz que a construção de um novo aeroporto representa uma plano inviável. Aproveitemos a pausa imposta na aviação para reconsiderar todo o paradigma da nossa política de transportes, os projetos de expansão aeroportuária, e o papel da ANA e da TAP enquanto objetos de lucro para os privados, ou veículos de interesse público.

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