No dia 2 de Julho, Lisboa, Madrid e Hendaye juntaram-se numa ação festiva por uma rede de comboios noturnos que ligue os territórios de forma confortável, justa e ecológica.
Num fim de tarde quente de Verão, trinta pessoas de todas as idades e origens juntaram-se na Estação de Santa Apolónia. Vestiram pijamas, dançaram uma coreografia e embarcaram num comboio humano, para apelar ao regresso imediato do Lusitânia (Lisboa – Madrid) e do Sud Expresso (Lisboa – Hendaye).
Os dois comboios noturnos foram suspensos no início da pandemia e ainda não foram repostos, praticamente isolando Portugal da rede ferroviária europeia – uma situação que só tinha acontecido nas duas Guerras Mundiais. Neste momento, Lisboa é uma das únicas capitais europeias sem qualquer ligação ferroviária internacional, e Lisboa e Madrid estão mais mal conectadas do que estavam em 1881.
Para além das vinte organizações que já apoiam a ATERRA, a iniciativa recebeu o apoio das principais organizações ambientais portuguesas, como ZERO, FAPAS e Quercus, mostrando um vasto consenso em torno de uma mobilidade com os pés na Terra.
Numa cidade ameaçada pelo turismo de massas e por uma megalómana expansão aeroportuária, o grupo defendeu o comboio noturno como o transporte de longa distância mais amigo do ambiente, apelou à tributação justa da aviação (que continua praticamente isenta de impostos), e propôs que uma viagem de comboio custe, no máximo, metade da viagem equivalente em avião.
À mesma hora, decorriam concentrações em Madrid e em Hendaye – os destinos dos dois comboios noturnos com partida em Portugal. Nas faixas, em português, francês e castelhano, lia-se: “Comboios noturnos: o futuro da noite para o dia“.
Na estação de Hendaye, dezenas de pessoas responderam ao apelo do coletivo Oui au train de nuit e da CGT, uma das principais organizações sindicais francesas. Para além de apelar ao regresso do Sud Expresso, celebraram o regresso do comboio noturno Paris-Hendaye, e exigiram que este funcione diariamente durante todo o ano, e seja prolongado até Irun, para ligar à rede ferroviária espanhola.
Em Madrid, a ação convocada pelos Ecologistas en Acción, com o apoio de diversas plataformas em defesa da ferrovia pública, aconteceu em frente à estação de Atocha. Para além das ligações a Portugal e a França, o grupo apelou ao regresso dos outros comboios noturnos que existiam antes da pandemia, como os que ligavam Galiza a Madrid e a Barcelona. “Esta é apenas a primeira de muitas ações. Os comboios noturnos são um elemento chave na conceção do sistema de mobilidade para um futuro que respeita o planeta e é socialmente justo“, disseram.
As ações despertaram o interesse dos passageiros que, ao deparar-se com os grupos em pijama nas estações, perguntavam o motivo da mobilização e mostravam o seu apoio. Muitos partilharam orgulhosamente as suas experiências passadas a viajar em comboios noturnos e perguntaram porque tinham desaparecido apesar das suas enormes vantagens.
Entretanto um verdadeiro renascimento dos comboios noturnos já está acontecer na Europa, com novas e antigas ligações a ser (re)lançadas: Roma – Amesterdão, Viena – Paris, Berlim – Bruxelas, Malmo – Bruxelas ou Praga – Croácia.
Em França, Espanha e Portugal, após décadas de desinvestimento, os três coletivos apelam à cooperação entre os seus governos e operadores ferroviários, a fim de relançar uma ambiciosa rede ferroviária noturna entre a Europa e a Península Ibérica. Pedem bilhetes de comboio acessíveis a todes e fáceis de reservar, a eletrificação de todas as linhas que ainda requerem locomotivas diesel, e a possibilidade de transportar bicicletas e animais de companhia nos comboios.

A rede de comboios noturnos será essencial para cumprir os acordos climáticos, podendo a transferência modal para este meio de transporte resultar numa redução de 95% nas emissões de gases com efeito de estufa.



A ação nos media:
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