250 organizações exigem linhas vermelhas para o resgate à aviação

: Carta aberta exige que os trabalhadores e o clima sejam postos em primeiro lugar

Hoje, 250 organizações de 25 países publicaram uma carta aberta dirigida aos governos, exortando-os a resistir a quaisquer tentativas de lóbi da aviação para se precipitarem em salvamentos injustos do setor. A iniciativa insta os governos a aproveitarem antes este momento para incorporar condições sociais e ambientais, que assegurem a devida proteção dos trabalhadores e uma transição para uma mobilidade ambientalmente justa. A partir de hoje, os cidadãos portugueses e de todo o mundo estão a manifestar seu apoio a estas exigências, assinando uma petição que está em rápido crescimento.

“Durante décadas, o setor da aviação evitou contribuir significativamente para os objetivos climáticos globais e resistiu à mera sugestão de impostos sobre o combustível ou os bilhetes. Agora, as companhias aéreas, os aeroportos e os construtores exigem resgates enormes e incondicionais, apoiados pelos contribuintes. Não podemos deixar que a indústria da aviação escape com a privatização dos lucros nos bons tempos e esperar que o público pague as suas perdas nos maus momentos”, diz Magdalena Heuwieser, da Stay Grounded, uma rede global de mais de 150 organizações, que subscreveu a carta juntamente com outras organizações, incluindo institutos universitários, sindicatos e iniciativas pela justiça climática.

A carta exige que os governos:
1) ponham as pessoas em primeiro lugar e socorram os trabalhadores, não os acionistas e os executivos;
2) transformem o setor dos transportes de forma ecológica, reduzindo a procura de transportes aéreos e reforçando alternativas com baixas emissões, como o transporte ferroviário, bem como substituindo postos de trabalho da aviação por empregos para o clima; e
3) pôr termo às isenções fiscais da aviação, instituindo simultaneamente um imposto sobre o querosene e taxas progressivas justas sobre os voos frequentes.

O setor aéreo fez fortuna nas últimas décadas, com taxas de crescimento mais elevadas do que a maioria dos setores económicos – o que levou a um grande aumento de emissões. A aviação já é responsável por 5-8% do aquecimento climático a nível mundial, quando incluímos os outros impactos além do CO2. Trata-se de um dano enorme, ainda mais porque causado por poucos passageiros frequentes: como descobriu um estudo recente, os 10% mais ricos do mundo utilizam 75% da energia do transporte aéreo.

Alexandre Perteguer, da campanha ATERRA, que junta 15 organizações portuguesas e é uma das promotoras desta iniciativa, afirma: “A crise do Covid-19 é urgente. No entanto, pode ser apenas uma amostra do que será uma crise climática. O momento que vivemos mostra que se é possível agir coletivamente de forma a parar milhares de mortes pelo vírus, também é possível efetuar uma verdadeira transição energética justa. Formar trabalhadoras da aviação para a transição para uma economia sustentável, e investir na ferrovia e noutros meios de transporte que respondam às necessidades da população, sem por em causa o futuro. O regresso à normalidade anterior à crise do Covid-19 não pode ser uma opção.”

Tahir Latif, do sindicato britânico PCS, que também representa os trabalhadores do setor da aviação, afirma: “O colapso da indústria da aviação deixou os trabalhadores vulneráveis e inseguros quanto ao seu futuro. A PCS e outros sindicatos exigem que as proteções financeiras, laborais e sanitárias sejam orientadas para ajudar os trabalhadores. Um rendimento básico real, que permita aos trabalhadores ver o futuro para lá da crise, tem de ter prioridade sobre os salvamentos das empresas. Exigimos a propriedade pública dos nossos sistemas de transporte, para permitir uma resposta mais humana e coerente no caso de crises semelhantes no futuro e para iniciar desde já a tarefa de planear a transição justa dos trabalhadores para empregos que façam face ao impacto dos transportes, em especial da aviação, nas alterações climáticas”.

Pablo Muñoz, da organização espanhola Ecologistas en Acción, afirma: “Embora estejamos justamente concentrados em salvar vidas e proteger as nossas comunidades da ameaça sanitária imediata do Covid-19, os nossos governos têm uma escolha: podem entregar incondicionalmente o dinheiro dos contribuintes às empresas, ou podem aproveitar a oportunidade para começar a construir uma economia que não prejudique as pessoas nem o planeta”.

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