Lisboa com os pés na Terra!

Perante a intenção das elites políticas e económicas de aumentar a capacidade aeroportuária de Lisboa, lançamos este apelo por uma mobilidade e uma sociedade mais justas e com os Pés na Terra.

Convidamos todos os grupos e organizações a subscreverem o apelo, escrevendo para aterra (arroba) riseup.net

1 | A aviação é um perigo para a saúde da população

O Aeroporto da Portela é a maior fonte de poluição de Lisboa, que é por sua vez uma das cidades mais poluídas da Europa. Décadas de estudos científicos mostram que a poluição sonora e atmosférica causada pela aviação é uma severa ameaça à saúde e ao bem estar das pessoas. Provoca perturbações no sono, stress, depressão, doenças respiratórias, dificuldades de aprendizagem, acidentes vasculares cerebrais, hipertensão arterial e outros problemas cardiovasculares. A população de Lisboa e do concelho de Loures é sobrevoada por um avião a cada dois minutos e meio. Todas as populações têm direito a um ambiente limpo e saudável.

2 | A aviação é um perigo para a saúde planetária

A aviação é, oficialmente, responsável por cerca de 2% das emissões globais de carbono. Mas, em conjunto com outros efeitos nocivos como a formação dos rastros de condensação, o seu impacto sobre o clima triplica – algo que tem sido ocultado pela indústria e pelos governos. A aviação representou, em 2019, 6% do efeito global sobre o aquecimento da Terra. Se fosse um país, seria o 6º país com mais emissões poluentes.

A aviação é ainda a fonte de gases com efeito de estufa que mais rapidamente cresce: na União Europeia, aumentou 146% nos últimos 30 anos. Sendo este setor praticamente impossível de descarbonizar durante as próximas décadas, permitir o seu aumento para valores pré-pandemia, e mais além, seria permitir que a sua contribuição para a destruição das condições de vida na Terra atingisse proporções ainda maiores.

3 | Não há nenhuma emergência de sobrelotação da Portela – há uma emergência de injustiça e de sobrepoluição do planeta

Apesar de não parecer aos olhos das elites europeias e norte-americanas, o avião é um meio de transporte de uma minoria global que polui todo o planeta. Mais de 80% da população mundial nunca pôs os pés num avião. A aviação é o mais injusto dos meios de transporte.

As filas de espera no aeroporto de Lisboa, e em muitos aeroportos no mundo, são um pequeno incómodo para as pessoas mais privilegiadas, que contribuem de forma desproporcional para as alterações climáticas. As secas, incêndios, tempestades e outros fenómenos climáticos extremos são um sofrimento tremendo para todas as pessoas, e sobretudo as que nunca andam de avião.

4 | Problemas complexos, soluções simples

Os problemas em torno do Aeroporto da Portela resultam do encontro entre três fenómenos em crescimento: a suburbanização de Lisboa, o transporte aéreo e o turismo de massas. Os três são insustentáveis. O turismo e a exploração aeroportuária criam uma “zona de sacrifício” que abrange grande parte de Lisboa e as zonas a norte da cidade. A boa noticia é que, quer a poluição sonora e atmosférica, quer o turismo massificado e a crise de habitação que este provoca, quer a emissão de gases com efeito de estufa da aviação, passam por uma mesma solução. Ela é simples e suave. Está frente dos nossos olhos e ouvidos: É preciso reduzir o tráfego aéreo.

5 | Nem no meu quintal, nem num baldio que é de todos

Apesar de a poluição aeroportuária de Lisboa ser quase única no contexto europeu, e de ser quase impossível o aeroporto da Portela cumprir a legislação do ruído, a hipótese de o transferir para uma localização que reduza os impactos sobre a saúde das populações humanas só é concebível se evitar danos significativos nos ecossistemas e se integrar o transporte aéreo, com uma dimensão muito inferior à atual, com o transporte ferroviário.

O legítimo despertar de consciência das populações para o crime contra a sua saúde não se pode ficar por um fenómeno NIMBY (“not in my backyard“, ou “no meu quintal não”). Se a nossa região não é para ser poluída, será legítimo construir outro enorme aeroporto, novo em folha, fora dela, para poluir outro lugar? Pode e deve ser, sim, uma oportunidade para compreender até que ponto a aviação será sustentável. Uma oportunidade para ser solidário/a com todas as pessoas que sofrem os impactos do tráfego aéreo, da construção e da ampliação de aeroportos, em Lisboa, em Portugal, e no Mundo; com todas as populações que sofrem com a crise ecológica; com todas as espécies que formam a rede que suporta a vida na Terra; e com todas as gerações que no futuro habitarão este planeta.

Apelamos à população afetada pelo aeroporto da Portela, aos grupos de cidadãos, às associações, aos sindicatos e às organizações não-governamentais a juntarem-se ao movimento global pela redução da aviação e por uma mobilidade com os pés na Terra, que respeite as pessoas e o planeta.

6 | Menos avião, mais imaginação!

Andar para trás e para a frente com estudos ambientais enviesados, atropelos à lei e à vontade das populações, perseguição de ativistas: o Governo Português tem sido particularmente criativo no autoritarismo com que tenta impor uma “ampliação da capacidade aeroportuária de Lisboa”. O objetivo é quase duplicar os movimentos aéreos por hora e duplicar o número de passageiros aéreos (chegando aos 50 milhões por ano, numa cidade de 500 mil habitantes).

O único plano que pode, hoje, ser alvo de uma avaliação ambiental é o da “redução da capacidade aeroportuária”: Este é o momento de planear a redução da aviação, protegendo os direitos das trabalhadoras do setor e de todas as pessoas afetadas. De planear de forma coordenada a redução da capacidade total instalada nos quatro aeroportos civis internacionais já existentes em Portugal Continental (Lisboa, Porto, Faro e Beja), preparando o país para um futuro com muito menos viagens aéreas, visando o bem-estar e a saúde da população e do planeta Terra.

É o momento de planear e desenvolver a ferrovia como meio de transporte para viagens de média e longa distância, com comboios confortáveis e acessíveis, a chegar e a partir para Espanha e para a Europa, todos os dias e todas as noites. De conectar todo o território de Portugal por uma rede ferroviária e um serviço público de transportes seguros, eficazes e ecológicos. De desenvolver navios amigos do ambiente para ligar o continente aos Açores e à Madeira.

É o momento de promover uma vida mais enraizada no território, que possa poupar numerosas deslocações. Uma vida que possa ter menos horas e dias de trabalho e permitir viajar com mais tempo, mais prazer e mais respeito pela Terra.

As alterações climáticas e a crise ecológica chamam-nos a fazer mudanças radicais. São uma oportunidade para mudarmos – radicalmente – para melhor. Para deixarmos de explorar o planeta e passarmos a servir a Vida. Juntemo-nos por uma cidade, uma mobilidade e uma sociedade com os pés na Terra!

 

Imagem de Common Destination, Stay Grounded

 

Primeiros subscritores:

ATERRA – campanha pela redução da aviação e por uma mobilidade justa e ecológica

Campo Aberto – associação de defesa do ambiente

Climáximo

GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental

Left Hand Rotation

Morar em Lisboa

Rede para o Decrescimento

Stop Despejos

9 Replies to “Lisboa com os pés na Terra!”

  1. Sempre quero ver como é que os mais de 35.000 participantes (segundo a organização) se irão deslocar para a COP 27 no mês de Novembro no Egipto…
    De comboio não dá, e a bem do clima de avião não poderão ir.
    Quererão ir a nado?
    Ambiente sim! Sempre! Fundamentalismos bacocos por parte de organizações de “vão de escada” é que já ninguém liga. E ainda bem!

    1. Pois também não sei muito bem qual é a utilidade das COP. Desde a primeira COP, a concentração de CO2 na atmosfera não tem parado de crescer. A melhor contribuição para a redução da emissão dos gases com efeito de estufa talvez fosse cancelar esse tipo de eventos internacionais que poucas consequências têm na prática e implicam imensas deslocações com emissões significativas.

      Temos de enfrentar a realidade: É preciso repensar a nossa forma de viver de uma forma muito mais drástica do que os líderes políticos e económicos estão a propor. Já não vai ser suficiente dar uns pequenos retoques e continuar na mesma.

  2. Totalmente de acordo.
    Há alguma petição sobre este assunto?
    Obrigada,
    Mª Paula Soveral Ribeiro da Silva

  3. Acho de suprema importancia este ALERTA ….só peca por tardio. É absolutamente lamentável a irresponsabilidade desta gente que tem nas mãos o destino do Planeta. Nunca se ouve falar neste gigantesco problema que é aquele que é causado pelas centenas de milhar de aeronaves que em cada dia cruzam os céus do Planeta, queimando milhões de toneladas de petróleo. Anda tudo de Bico calado…. escondem toda a verdade sobre este assunto…..só falam em aumento e mais aumento de economia…sem olhar aos prejuizos ambientais. Eu sou profissional de aviação há mais de 40 anos…e sei o que se passa diáriamente com o tráfego aéreo. Nem jornais nem TV´s olham pra esta questão…que é gravissima.

  4. Isto não tem ponta por onde se lhe pegue.
    Então e a construção da infraestrutura ferroviária e a sua manutenção?
    Deve ser mais um patrocínio que vem de Leste a partidos e organizações para limitar o crescimento do Ocidente Europeu e que Portugal é especialmente permeável!
    Devem ser os mesmos que advogam que a Terra é plana!

  5. Até que enfim que há alguém que levanta a voz a favor do comboio rápido TGV. Iremos levar 3 horas de Lisboa a Madrid em vez das atuais 9 horas. Irá aumentar o turismo que está asfixiado no aeroporto por bso ter alternativa viável. De Lisboa ao Porto ouAlgarve nem se fala. Quando a slternstiva é o carro ou o autocarro. Parabéns por esta iniciativa wie subscrevo a 100%. Temos que pensar no futuro e não no presente!

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